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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

viagem do Globo Repórter pelo Brasil das ervas medicinais levou a equipe até o Maranhão, no Nordeste do país. Na capital, São Luís, um encontro marcado com uma senhora de 75 anos: a doutora em botânica e professora de Farmácia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Terezinha do Rêgo.

A visita a um casarão do século 19 é uma volta ao passado. Volta à infância, quando ela fez as primeiras experiências com amendoins no quintal onde hoje existe uma estreleira. Os sonhos de menina ganharam o mundo e chegaram ao país olímpico, que chama a atenção do planeta. Isso mesmo: veio da China o reconhecimento pelo trabalho da pesquisadora. No lugar mais povoado da Terra, seus remédios salvaram muitas vidas. O xarope de urucum, a tintura de assa-peixe e a essência de cabacinha foram usados no combate à pneumonia asiática. Orgulho que não afasta a cientista do lugar que ela mais gosta.

"A erva-cidreira é calmante e é digestiva. Usamos muito nas enxaquecas", diz doutora Terezinha, que circula entre as plantas como se estivesse entre amigas inseparáveis. Uma convivência de 50 anos. No herbário da UFMA, ela dá aulas nos cursos de extensão da Faculdade de Farmácia.

"O fitoterápico é natural, não requer a junção de outros elementos químicos já industrializados que transformam suas propriedades naturais em medicamentos que têm uma tendência a trazer efeitos colaterais", explica doutora Terezinha.

Foi assim que, ano após ano, doutora Terezinha desenvolveu 70 medicamentos fitoterápicos que hoje são produzidos pela universidade.

Muita gente acaba fazendo garrafadas, misturando planta com cachaça. Doutora Terezinha diz que isso é um crime. "É terrível, porque cada planta tem a sua ação. Então, se você misturar muito, pode curar uma coisa e adquirir muitas outras", diz.

Uma planta não é transformada em medicamento fitoterápico assim, de uma hora para outra. A cabacinha, por exemplo, é tão pequena e foram 20 anos de pesquisas no laboratório da universidade. O único jeito de haver comprovação científica sobre as propriedades, a composição da planta. Além isso, só esse trabalho pode indicar a dose certa de cada remédio para tratar cada doença.

Assim foi com a cabacinha, ou buchinha, que é usada para a sinusite; com a urtiga branca, contra as alergias; com o urucum, para pneumonia. Parte desses medicamentos é distribuída em postos de saúde de atendimento fitoterápico como o que fica em um bairro pobre de São Luís.

Muitos são pacientes antigos e fiéis, como a aposentada Maria Soledade dos Santos.

"Eu tinha uma dor no estômago que me fazia gritar. Quando estava em crise, só tomava água e remédio. Doía muito mesmo. Com os remédios das plantas, fiquei boa", conta a paciente.

Algumas ervas são colhidas na horta do posto e são manipuladas na hora, no pequeno laboratório, por alunos da Faculdade de Farmácia.

Há 12 anos a professora começou um projeto ainda mais ousado: a fitoterapia no apoio ao tratamento de 33 pacientes com Aids. Não há promessa de cura. É apenas uma forma de aliviar os efeitos colaterais do coquetel usado contra o vírus.

"É mesma relação do portador de câncer com a quimioterapia e a radioterapia: há uma sobrecarga em todos os órgãos, principalmente naqueles mais sensíveis, como fígado, estômago e pulmões. Conseguimos minimizar os efeitos com os fitoterápicos, melhorando a qualidade de vida deles", diz doutora Terezinha.

Um paciente concordou em falar desde que não fosse identificado. Não quer mais sofrer com a discriminação.

"Eu cheguei em um estado muito debilitado, tomando os coquetéis. Os efeitos colaterais eram muito pesados. Eu tinha depressão, náuseas, não conseguia me manter, só trocando de medicação. Quando eu comecei a tomar a tintura da chanana, minha imunidade foi subindo", lembra o paciente, que afirma não ter nenhum efeito colateral com os medicamentos fitoterápicos.

"A chanana dá energia e os outros vão ajudando. O xarope de urucum diminui a incidência da pneumonia e por aí vai. Damos 12 fitoterápicos para eles. Os principais são a chanana, o xarope de urucum e a cabacinha, para problemas respiratórios. Eles são muito propícios à rinite alérgica, sinusite, adenóide. Também têm diarréias, por causa da sobrecarga química. Para isso, fazemos uma tintura com a raiz de caixeta. Se, ao contrário, têm constipação intestinal, fazemos uma geléia de tamarindo, para tomarem de manhã em jejum. Vamos ajudando bastante eles", conta doutora Terezinha.

O projeto tem o apoio do reitor da universidade, Natalino Salgado Filho, que é médico e também vice-presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). "A prática médica leva muito ao bom senso. O paciente está melhorando? Ele tem direito a uma alternativa terapêutica. E os fitoterápicos estão aí", defende.

Com tantos anos de trabalho e vários prêmios internacionais, a professora Terezinha já poderia estar em casa, descansando. Mas, para ela, as plantas e a pesquisa são tão importantes quanto respirar. "É meu oxigênio. Eu acho que no dia em que eu sair é para ir para outro plano. Estou aposentada só no papel, porque eu continuo trabalhando", finaliza.

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